A Secretaria de Saúde da Bahia, através do
Lacen (Laboratório Central) e da Divep (Diretoria de Vigilância Epidemiológica
do Estado), em parceria com o Ministério da Saúde, está realizando no Estado,
palestras e capacitação dos seus técnicos da área de vigilância sanitária para
a identificação e controle de doenças causadas através de ratos. A capacitação
faz parte do projeto sorológico sobre prevalência por agravos associados a
roedores, como a peste, leptospirose, febre maculosa e Hantavirose.
Mais de 30 profissionais
estiveram reunidos na sede da 16ª Dires de Jacobina, entre os dias 24 e 28 de
novembro recebendo orientações práticas sobre as doenças. Mais de uma centena
de ratos foram capturados na região para a realização de exames sorológicos
para identificar se existe a doença e o PCR, um estudo mais preciso para o
diagnóstico e detecção do agente etiológico das bactérias causadoras das
doenças transmitidas por roedores, principalmente ratos silvestres, que vivem
no mato.
Representantes de nove regiões
consideradas pestíginas participaram da capacitação. Enviaram técnicos, as
Dires de Feira de Santana, Jacobina, Irecê, Itaberaba, Vitória da Conquista,
Serrinha, Mundo Novo e Senhor do Bonfim. As próximas e últimas etapas serão
realizadas nas regiões de Irecê e Vitória da Conquista.
De acordo o médico veterinário
Edson Ribeiro Júnior, sanitarista da Divep/Sesab, o objetivo do projeto é
identificar e mapear as regiões onde pode existir animais contaminados e saber
se ainda existe o risco de uma epidemia. Segundo ele, em relação a Peste por
exemplo, nenhum país conseguiu erradicar a doença e é, justamente por não saber
se ela ainda é uma ameaça e que não está sendo identificada que a capacitação
está sendo realizada. Edson informou que o projeto prevê realizar a sorologia
nos três estados (Bahia, Ceará e Pernambuco) onde no passado houveram casos
confirmados de doenças causadas através de roedores. “Para se ter uma ideia do
problema, os EUA e os países asiáticos China e Singapura vivem atualmente uma
epidemia de Peste”, salientou.
O Brasil, no século passado foi
acometido por diversas epidemias, principalmente da Peste destas, que chegou a
praticamente dizimar a população de comunidades inteiras, como aconteceu no
distrito do França, município de Piritiba. Na Bahia, na década de 70, mas
precisamente entre os anos de 1970 a 1975, aconteceu a última epidemia
confirmada da Peste, inclusive com óbitos.
Fazem parte da coordenação do
projeto, e estiveram em Jacobina, a doutora Alzira Almeida, do Centro de
Pesquisa Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz, com sede em Recife e a
pesquisadora Cibele Rodrigues Bonvicino, da Fundação Fio Cruz, do Rio de
Janeiro. Alzira é reconhecida mundialmente por suas pesquisas em
peste e seu laboratório é a única de referência nacional no tema. Por sua
experiência, foi convidada pelo Programa Nacional a dar apoio técnico
laboratorial ao TCC que o Brasil está elaborando com o Peru para intensificação
e vigilância de peste e Hantavirose.
Conforme relatos históricos,
quase metade da população europeia morreu vítima da peste. Pessoas chegavam a
ser enterradas em 2 ou 3 no mesmo caixão e o horror desolava a população.
Considerada a primeira doença verdadeiramente pandêmica, a peste negra, em 1348
não só “acabou” com a Europa como também fez várias vítimas na Índia e na
China. Como as condições de higiene na época eram as mais precárias (a média de
consumo de água era de 1l/dia), ratos eram atraídos e, com eles, suas pulgas,
que transmitiam a doença pela picada. A Peste Negra teve muita influência nos
grandes artistas da época.
A peste é transmitida por uma
pulga, sendo o rato o seu reservatório (hospedeiro); a Leptospirose é
transmitida através da urina do roedor; já a Febre Maculosa é através de
carrapatos, pulga e piolho e a Hantavirose é transmitida através da aspiração
do vírus encontrados geralmente em ambientes fechados onde existe a presença de
ratos.