Disposto a medir forças dentro do PT e a
escancarar críticas à política econômica do governo Dilma Rousseff, o ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu tenta reaglutinar o seu grupo no partido. Dois anos
após ser condenado no processo do mensalão e cumprindo pena em casa desde
novembro, Dirceu recebe com frequência deputados, senadores e dirigentes que se
queixam do governo e pregam mudanças na legenda. Os movimentos do petista têm o
objetivo de articular a formação de um novo campo político no PT, que pode
culminar em seu afastamento da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB),
majoritária no partido. Embora tenha sido condenado em 2012 a 7 anos e 11
meses de prisão por corrupção ativa, Dirceu ainda se considera forte no PT e
quer reunir, após o carnaval, militantes de diferentes tendências. Até agora,
ele já conversou com cerca de 30 deputados, sete senadores e correligionários
de vários Estados em sua casa no Lago Sul de Brasília, onde cumpre a prisão
domiciliar. Até mesmo parlamentares da corrente Mensagem ao Partido - integrada
pelo titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, seu desafeto - e de grupos do PT
mais à esquerda no espectro ideológico, já se reuniram com o
ex-ministro. Nas conversas reservadas, às vésperas da comemoração de 35
anos do PT, que serão completados em fevereiro, Dirceu diz que sua intenção é
discutir os rumos do partido antes de seu 5º Congresso. O encontro de Salvador,
em junho, vai nortear as ações do petismo nos próximos anos e deve fazer uma
autocrítica sobre a sucessão de escândalos que se abateram sobre a
legenda. Padrinho de Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás que teve o nome
envolvido na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Dirceu tem afirmado aos
interlocutores que o PT e o governo Dilma estão na defensiva e não sabem reagir
à oposição. Critica abertamente a direção do PT, a presidente Dilma, a equipe
econômica e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto
(Secretaria Geral da Presidência) e Pepe Vargas (Secretaria de Relações
Institucionais), encarregados da articulação política com o Congresso. Na
terça-feira, 18, Dirceu publicou em seu blog um texto criticando as recentes
medidas econômicas do governo. "O aumento de impostos e dos juros são
apenas consequências, desdobramentos da busca de um superávit de 1,2% do PIB
este ano", escreveu. "A elevação dos juros visa derrubar a demanda e
vem casada com o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para os
empréstimos às pessoas físicas. Aí, também, refreando o consumo. Caminhamos
assim - conscientemente, espero, por parte do governo - para uma recessão com
todas as suas implicações sociais e políticas." Dirceu está ressentido com
a cúpula do PT, porque se sentiu abandonado durante o julgamento do Supremo
Tribunal Federal (STF). A portas fechadas, a posição do ex-todo poderoso
chefe da Casa Civil é parecida com a da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Marta foi enfática: "Ou o PT
muda ou acaba". Um amigo que esteve com Dirceu recentemente diz que o
ex-ministro de Lula tem "energia para brigar" e quer se
"reinventar". Segundo esse interlocutor, Dirceu tem uma posição
crítica em relação ao atual processo político e à cúpula do governo.
O cumprimento da sentença do mensalão em regime de prisão domiciliar
impõe restrições à atuação de Dirceu. Ele não pode, por exemplo, sair de
Brasília sem autorização do Supremo. Deve ficar em casa das 21 às 5 horas, é
proibido de frequentar bares e de promover encontros com outros condenados que
estejam cumprindo pena. O pedido de prisão domiciliar foi mais um ponto de
atrito de Dirceu com o comando do PT. Dirigentes do partido e até emissários de
Lula chegaram a pedir a ele que só apresentasse esse pedido após a campanha da
reeleição de Dilma, para não dar discurso ao PSDB, reavivando o mensalão.
Dirceu não aceitou. Agora, ele escreve o livro Tempos de Papuda, sobre sua
passagem pelo presídio do Distrito Federal.